disrupção

É hora de disromper toda essa disrupção?

A ideia de disrupção invadiu com força total o mundo da gestão empresarial nos últimos anos.

É a maior onda de entusiasmo do tipo desde do hype em torno de mercados emergentes surgido com o tema BRICS, lá no começo dos anos 2000. Brasil, Rússia, Índia e China, lembram? Bons tempos.

Em resumo, a previsão agora é que setores tradicionais da economia sofrerão uma disrupção em mãos de novos concorrentes, empresas de tecnologia com vastos recursos e uma capacidade de destruir e reconstruir mercados à sua própria semelhança por meio do poder conferido por uma abordagem baseada em análise de dados.

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Nos últimos tempos, o argumento foi resumido em uma espécie de mantra: “A Uber é a maior empresa de transporte do mundo e não tem carros; o Airbnb é a maior empresa de hospedagem e não tem nenhum quarto de hotel”.

Vocês certamente já ouviram em infinitas apresentações sobre os problemas enfrentados pelas gravadoras de música, estúdios de cinema, livrarias, videolocadoras, jornais e dos varejistas de roupas em virtude do surgimento de mecanismos de “compartilhamento” e do crescimento vertiginoso do e-commerce.

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E qual é o problema de toda essa conversa?

O problema de tudo isso, além da palavra “disrupção” ser um pouco ruim de usar em português (como se conjugaria o verbo para esse substantivo? Tenho medo até de pensar), é que a proposição não fecha quando confrontada com o comportamento real do mercado.

As dificuldades de algumas empresas são verdadeiros, é claro. Segundo dados coletados pela The Economist, o lucro da grande rede de livrarias americana Barnes and Nobles é hoje 76% menor do que já foi no seu pico.

O da Universal, estúdio por trás de filmes como ET, Tubarão e Jurassic Park, além de um número indeterminado de filmes da franquia Velozes e Furiosos, diminuiu 40%. A Toy R’ Us faliu.

A varejista de comida natureba Whole Foods, um case de sucesso no varejo convencional, foi comprada pela Amazon, assim como o Washington Post (talvez o plano seja usar edições não vendidas do jornal para embalar alguns produtos).

Todo mundo compra livros, todo mundo escuta música, todo mundo compra roupas. Isso faz com que as empresas desse setor tenham uma visibilidade desproporcional ao seu peso real na economia e sejam bons exemplos para apresentações, ainda que não necessariamente o melhor lugar para se olhar se nós quisermos ter um entendimento correto da realidade.

Quer ver? Façamos um teste. Qual era o peso desses seis setores juntos no lucro total das 500 maiores empresas dos Estados Unidos em 1997, ano no qual Fabiano Cachaça era ponta esquerda no Inter, Mark Zuckerberg lidava com os constrangimentos da primeira puberdade e o termo disrupção, provavelmente, só fosse usado por leitores devotos de dicionários?

(*Fabiano Cachaça é mesmo um nome de jogador de futebol? ** Afinal, qual é a porcentagem? As respostas para estas perguntas estão no final do post).

Put your money where our mouth is

Onde obter, então, um entendimento mais exato do verdadeiro efeito de novos modelos de negócios disruptivos no futuro da economia? É uma bela pergunta, para qual a resposta mais honesta seria “vai saber”, o que sem dúvida deixaria descontentes os leitores desse post.

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Talvez um bom lugar para olhar seja o comportamento dos investidores no mercado. Eles podem não acertar o tempo inteiro, mas, pelo menos, estão apostando dinheiro no comportamento do mercado no futuro, não em lâminas de PowerPoint.

A The Economist andou dando uma olhada nas relações entre os lucros pagos aos acionistas por ação das 500 maiores empresas americanas frente ao valor das mesmas na Bolsa. O número mágico no caso é 12. Se o valor de uma ação é inferior a 12 vezes o rendimento dessa ação, esse é um sinal de que os investidores acreditam que os lucros da empresa vão cair no futuro e estão tentando se livrar das ações.

Se os investidores acreditassem que grandes empresas estão prestes a ser destruídas por alguém recém saído da adolescência depois de um período prolongado de trabalho em algum lugar com pouco acesso a luz do dia, o número de companhias nessa situação seria alto. Ele não é.

Das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, apenas 40 têm uma relação de lucro por ação x valor dos papéis inferior a 12. Elas estão concentradas nas indústrias automotiva e aérea. No caso das empresas de aviação, o problema é a guerra de preços entre os competidores e o medo de uma intervenção regulatória do governo. Nada a ver com disrupção.

Os problemas da indústria automobilística têm a ver com tecnologia. A General Motors e a Ford estão avaliadas em sete vezes os lucros por ação, provavelmente, porque os investidores acreditam que novos players como a Tesla e novas formas de transporte individual por meio de apps vão deixar as fabricantes tradicionais de carros em maus lençóis em um futuro próximo.

Outras colunas do autor:
>> Como uma empresa de tecnologia quebra
>> Como uma empresa de tecnologia quebra (parte II)

Mas é isso. Mesmo com toda a onda de fintechs, a Visa e a Mastercard, juntas, têm o mesmo valor de mercado da Amazon, e os grandes bancos (ainda) não sofreram nas suas avaliações por parte dos investidores.

É conveniente para palestrantes e para o branding das empresas de tecnologia – principalmente quando estão querendo convencer o público da urgência de comprar algo – fazer previsões sobre o futuro que colocam eles mesmos no papel dos agentes de uma mudança inevitável: seja um disruptor, ou sofra a disrupção.

A verdade, porém, é que na maior parte do tempo o mundo não funciona à base de grandes confrontos definitivos, dos quais emerge um vencedor claro. Encontrar esses ganhadores é normalmente um trabalho feito no futuro, enquanto no presente nós precisamos lidar com acomodações instáveis, incongruências aparentes e incerteza.

*Fabiano Cachaça foi sim um jogador de futebol, um ícone da minha geração de torcedores colorados. Seu verdadeiro nome era Luiz Fabiano de Souza.
** 2%!


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