Victor Odo - entrevista

“Hoje é muito mais difícil ser programador do que quando comecei” – Victor Odo

Victor Odo começou a programar desde cedo e, aos 15 anos, já se viu no universo de agências, quando a união de tecnologia e criatividade ainda era novidade. Hoje, como Coordenador de Tecnologia e Creative Technologist na FCB Brasil, ele gerencia uma equipe, conecta demandas com fornecedores e procura viabilizar campanhas que usem a tecnologia de forma inteligente e inovadora.

Nessa entrevista exclusiva para o blog – e produzida em parceria com o Instituto MestreGP – Victor, com 26 anos, conta como funciona sua transição de colaborador para gestor, os desafios de integrar áreas e as diferenças de atuar em agência ou empresas de tecnologia tradicional.

Ao final, confira também o material em vídeo da TV GP.

Como é sua rotina de trabalho?

Victor Odo: Sou Coordenador de Tecnologia e Creative Technologist na agência, mas sento na criação para ficar mais próximo quando surgem as ideias para já alinhar e lapidar. Muitos projetos a gente terceiriza, mas tudo que diz respeito à tecnologia, em relação à concepção, é feito aqui. Fazemos o desenho do projeto e quando passamos para a produtora é apenas para a execução. Eles trazem o know how, podem sugerir, mas nós que sabemos a infraestrutura do cliente ou até mesmo o modelo de negócio que não pode ser alterado. A produtora fica mais como um braço.

E como é a participação e integração com os Gerentes de Projeto da agência?

Victor: O GP demanda e nós gerenciamos o fornecedor. Da mesma forma que o GP tem o escopo de projetos dele, eu tenho meus escopo de tecnologia que com os requisitos, entregáveis, goals. Tenho um papel de produtor: bato o cronograma com o fornecedor e, no final, tudo é passado para o GP, que integra e consolida tudo. Acabo executando o papel do GP do lado técnico de produção.

Com a pulverização de plataformas e tecnologias, o papel do GP muda?

Victor: Na prática, não muda. Porque acho que o grande papel do GP sempre foi o mesmo: garantir os prazos, garantir as entregas e garantir a comunicação entre todas as áreas. À medida que o GP tem experiência com projetos digitais ou que envolvam tecnologia, ele adquire um background e adquire noções tanto de tempo quanto de funcionamento. É importante que o GP tenha autonomia para poder tomar algumas decisões, mas acho muito importante também que ele faça o papel de levantar a bandeira para as áreas, e que elas tomem a decisão que a competem.

Isso já foi um grande problema para agências?

Victor: No passado, o projeto chegava da mão do cliente e a tecnologia não era envolvida. Tudo já estava definido, inclusive já tinham determinado preço e prazo. A tecnologia olhava para isso e falava: “Meu Deus, o que vocês fizeram aí?”. Por isso, o GP precisa acionar as pessoas certas.

Um dos seus papéis é gerenciar os fornecedores. Como funciona isso?

Victor: Primeiro, faço orçamento com vários fornecedores e o Atendimento dá uma olhada, mas o crivo das produtoras sempre é da tecnologia porque conhecemos as especificações. Às vezes uma produtora é mais barata, mas eu sei até que ponto chega a qualidade. Eu sei até que ponto posso contar com ela quando precisarmos virar a noite noite. E também conhecemos a dinâmica de cada projeto e sua verba.

As mudanças dos últimos anos impactaram de alguma forma o seu trabalho?

Victor: Os últimos anos foram uma loucura em termos de transformações. Acho que hoje é muito mais difícil ser programador do que quando comecei. As tecnologias nascem e morrem com uma velocidade absurda. O nível de exigência do mercado desse profissional é muito alto, muito alto mesmo. Não só o surgimento das novas tecnologias, mas a condição que o mercado está, justamente por a gente estar num momento de menores investimentos, as agências e produtoras e empresas de TI querem profissionais que saibam cada vez mais, mas não vão receber quantias que valem tanto que o que eles sabem.

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É uma questão de oferta e demanda, infelizmente. E vejo também que o surgimento de tantas tecnologias está transformando muito as estruturas das agências e das produtoras. Até 2012 era muito comum ver agências que tinham verticalizado tecnologia. Hoje você tem muitas subdivisões. Essas estruturas são muito caras de se manter. Não faz sentido eu ter alguém focado só em VR o ano inteiro, por exemplo. Não vai ter projeto, não vai ter demanda, não compensa. Nisso, cada vez mais as agências foram enxugando e ficando só com seu core. E todo esse trabalho de inovação, do ponto de vista técnico, muitas vezes fica na mão de uma produtora digital. Acredito que a gente ainda vá seguir por esse caminho.


“Todo esse trabalho de inovação, do ponto de vista técnico, muitas vezes fica na mão de uma produtora digital.”


Você tem uma trajetória técnica. O que sente de diferente em sua gestão?

Victor: A FCB é a terceira agência que trabalho como coordenador. Meu primeiro cargo assim foi com 19 anos, só que eu estava em um cenário muito tranquilo porque a equipe era muito sênior. As pessoas brigavam, discordavam, mas em pouco tempo estava tudo bem, tudo voltava ao normal. Quando eu vim pra cá, eu tinha uma equipe diferente para liderar, com perfil de manutenção, uma equipe mais júnior, pois a demanda não exigia perfis com tanta experiência. Foi quando percebi que quanto mais júnior é a equipe, mais é exigido do papel do gestor. Então, o desafio não é a técnica. Técnica você aprende. O grande desafio é lidar com pessoas.

Também tem a questão da estrutura. Se você está numa empresa muito pequena, você precisa necessariamente contar com todas as peças. Em uma estrutura grande, muitas vezes você nem enxerga quem não está trabalhando, quem não está entregando. Nesse tipo de empresa (grande), de certa forma você tem um pouco mais de tempo de manobra para tomar decisões e para resolver problemas, porque a movimentação é mais lenta.

Qual seria sua dica para quem está começando agora?

Victor: Acredito que faz muita diferença para o profissional ter uma variedade de experiências. Se puder ter a oportunidade de entrar no mercado em uma agência ou uma produtora pequena, aproveite. Lá é possível ter uma visão macro e você será muito mais cobrado. E quando você for para um lugar grande, vai fazer diferença ter a visão do todo. Você já saberá os impactos das decisões de outras áreas. Quando a primeira experiência profissional é em uma empresa muito grande, você fica somente na sua função. De qualquer forma, é interessante ao longo da carreira ter os dois tipos de vivência.

Qual é a diferença entre trabalhar em uma empresa de TI e ser da equipe de TI de uma agência?

Victor: Vai depender de cada perfil. Eu sou um profissional que funciona muito melhor em agência. Na maioria dos casos, em empresas de TI há projetos com um escopo extremamente bem definido – tem toda a parafernália de documentação, que é extremamente robusta em empresas que trabalham com sistemas. O que é positivo porque você tem condição de entrar no horário ou sair no horário. Você vai ser um superespecialista. Mas é um modelo extremamente conservador de desenvolvimento. Se chegar lá uma demanda que não dá para ser feita, não dá para ser feita e ponto. Traz mais tranquilidade. Por outro lado, quem não gosta de processo vai querer morrer. Na agência, não tem nada disso. Vai chegar o job, você vai perguntar “o que precisa fazer?” e vão te responder: “Não sei, mas precisa fazer”. É até meio maluco, mas também tem mais autonomia na tomada de decisão, projetos de perfis muito variados.

Por isso, repito a dica: tente ter experiências em todas essas áreas, agência, empresas de TI, equipes grandes, equipes pequenas. A partir do momento em que você tiver isso, tudo vai contribuir para você se tornar um profissional cada vez mais completo e até mesmo para você tomar uma decisão. Isso traz segurança para você escolher o que quer fazer. E aí culmina no que importa, que é você ser um profissional feliz.


“A empresa de TI é um modelo extremamente conservador de desenvolvimento. Em agência, você pode ter mais autonomia na tomada de decisão.”


O que você aprendeu com gestores anteriores que hoje aplica no seu modo de gerenciar?

Victor: Tive um diretor que me influenciou muito no modelo que eu acredito de gestão de equipe. Basicamente, o meu papel como gestor é dar condições. Não estou aqui para mandar em ninguém, nem para brigar com ninguém. Estou aqui para ser um viabilizador e acho que o bom gestor é um viabilizador. Você, recurso, precisa ter as condições para fazer o que precisa fazer. Então se você tem dúvida, é meu papel te ajudar. Tirar essas dúvidas.

Óbvio que a gente contrata pessoas que já têm um nível de conhecimento, mas quando você tem um profissional mais júnior, pega mais esse lado de relacionamento interpessoal. Muitas vezes, num primeiro momento, o gestor precisa trancar a equipe inteira para proteger, estruturar para dar condição deles exercerem suas atividades. Mas também é papel do gestor liberar as amarras e deixar que eles voem. Para o gestor, na prática, isso é muito simples. Quanto mais o colaborador se desenvolver, melhor. Ainda que tenha muito gestor que não goste disso, porque se sente ameaçado. Eu sou da opinião que quanto mais autonomia, melhor para mim, porque me deixa mais livre para também poder proporcionar isso para quem está acima de mim. É assim que a empresa vai crescendo.


“Muitas vezes, num primeiro momento, o gestor precisa trancar a equipe para proteger, estruturar para dar condição deles exercerem suas atividades.”


Tem algum tipo de conflito que você precisa lidar hoje, tanto na gestão da sua equipe quanto no relacionamento com outros times?

Victor: Acho que o conflito é uma coisa natural. Quando você entra em conflito quer dizer que se importa. Quando está todo mundo muito quieto é porque todos preferem deixar pra lá. O conflito faz com que a gente repense a forma que a gente trabalha. Estamos sempre azeitando os fluxos para ter resultados melhores. No passado, um conflito comum era o envolvimento. Por isso, hoje há um direcionamento para não deixar se envolver (determinada pessoa ou equipe) de última hora. Isso é válido não só para a tecnologia, mas para todas as áreas de uma agência. Se alguém vai responder por alguma coisa, ela tem que ter condição de opinar. Só isso já resolve 90% dos problemas.

Qual é o problema do mercado: escolher ou desenvolver gestores?

Victor: Existem pessoas tecnicamente incríveis, crânios, que vão subindo de cargo. Mas aí surge a seguinte situação: gestores que não deveriam ser gestores. São técnicos incríveis, mas que não tem o talento de gerenciar pessoas. O conhecimento técnico é importante e essencial, mas em cargos de gestão precisa estar aliado à inteligência emocional. Por isso, ainda é comum ver tantos conflitos, gente querendo sair na porrada, o cara que grita com o colaborador.


“Conheço muitos programadores incríveis que não querem ser líderes de equipe.”


Quem desenvolve essa skill nos colaboradores? Seria o gestor?

Victor: O gestor, como coach, é totalmente indispensável para melhorar isso. Por exemplo, você é gestor de tecnologia e está ajudando um profissional a se tornar cada vez mais sênior em uma linguagem de programação. Faz sentido colocar esse profissional que é o mais sênior como líder? Não necessariamente. Você pode ter um outro recurso que não é tão bom tecnicamente, mas que no quesito gestão é seguido naturalmente. Então também vejo como o papel do gestor criar as conexões entre as pessoas. Também é importante lembrar que não são todas as pessoas que desenvolvem ou querem isso. Conheço muitos programadores incríveis que não querem ser um líder de equipe. Compete ao gestor identificar esses potenciais.

>> Leitura recomendada: Como se tornar um líder coach para despertar o melhor da sua equipe


 

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Confira parte da entrevista em vídeo:

 

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