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Procrastinação: Como convertê-la de vício em virtude

Se você tivesse de definir o que é procrastinação, o que diria? Tecnicamente falando, é a pulsão para adiar a realização de um dever. Mas na prática… É uma maldição, um tormento, uma agonia. Certo? Bem, não exatamente para o professor de Psicologia e Administração da Wharton School da Universidade de Pensilvânia, Adam Grant. Autor do best-seller #1 do New York Times em 2016, Originals: How Non-conformists Move the World, ele afirma: “Embora seja um vício contra a produtividade, procrastinar é uma virtude para a criatividade”.

E é por conta disso que ele se esforçou para aprender a ser um procrastinador – uma missão bem pouco intuitiva se considerarmos as exigências e urgências de nosso tempo. Vejamos, então, o que ele tem a dizer. Adiantamos: é muito interessante.

Procrastinação: o maior vício da atualidade?

Grant traz um número perturbador, mas muito coerente: mais de 80% dos estudantes universitários dos EUA são atormentados pela procrastinação. Viram noites para terminar trabalhos e se preparar para provas. Lembra dessa época? Ou será que parece que foi ontem? Literalmente, ontem… Pois aproximadamente 20% dos adultos relatam ser “procrastinadores crônicos”. Aonde vamos parar com esse tormento diário? Com essa autocobrança martelando em nossas cabeças: Seja produtivo, Seja produtiva. Adam Grant está disposto a ajudar todos que se afligem com isso.

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“Faça logo o que vale a pena ser feito”

Durante anos, Adam diz, ele acreditou que valia a pena fazer cedo o que valesse a pena fazer. “Na pós-graduação, submeti minha dissertação com dois anos de antecedência. Na faculdade, escrevia meus trabalhos semanas antes e terminei minha tese quatro meses antes do prazo. Meus companheiros de quarto brincavam que eu tinha um transtorno obsessivo-compulsivo por ser produtivo. Psicólogos, inclusive, inventaram um termo para a minha condição: pré-crastinação”.

Pré-crastinação é o desejo de iniciar uma tarefa imediatamente e terminá-la o mais rápido possível. Se você é um uma pessoa fortemente pré-crastinadora, o progresso é como oxigênio e o adiamento é agonia. Quando uma enxurrada de e-mails aterram sua caixa de entrada e você não responde na mesma hora, sente como se sua vida estivesse saindo do controle. Quando você tem um discurso para dar no próximo mês, cada dia que você não trabalha nele traz uma sensação de vazio rasteira. “É como se um Dementador sugasse a alegria do ar ao seu redor”, ele brinca.

O Fluxo x O Macaco

“Eu perseguia o ‘Fluxo’, um estado mental descrito pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi (!) em que você está tão completamente absorto(a) em uma tarefa que você perde um sentido de tempo e lugar”, Adam explica, buscando uma referência científica para o seu caso, que pode ser justamente o seu. “Eu caí tão profundamente naquela zona de concentração que meus colegas de quarto certa vez deram uma festa enquanto eu estava escrevendo, e eu em notei.”

Em contrapartida, como o escritor Tim Urban descreve, procrastinadores estão como que à mercê de um macaco adestrado que habita seus cérebros, que pergunta o tempo todo coisas do tipo: “Por que usar o computador para trabalhar se temos Internet e ela está bem aqui, só esperando para ser usada?” Se você é um procrastinador, calar esse animal interior pode exigir uma dose cavalar de força de vontade. Da mesma forma que um pré-crastinador precisa de uma dose igualmente alta para parar de trabalhar.

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Deixe procrastinar

É aqui que a história evolui. Adam Grant conta que, alguns anos atrás, uma de suas alunas mais criativas, Jihae Shin, questionou seus hábitos de hiperprodutivo. Ela lhe disse que suas ideias mais originais vieram para ela depois que ela procrastinava. Grant a desafiou: “Prove”. Então, ela conseguiu acesso a uma série de empresas, pesquisou a frequência com que os profissionais procrastinavam, e pediu aos seus supervisores que avaliassem sua criatividade…

Adivinhe: os procrastinadores pontuaram em criatividade expressivamente mais do que os pré-crastinadores – como Grant.

Mas ele ainda não estava convencido. Assim como Jihae, uma professora da universidade de Wisconsin realizou alguns experimentos. Ela solicitou que as pessoas apresentassem novas ideias de negócios. Algumas foram designados, aleatoriamente, para começar a tarefa no mesmo instante. Outras tiveram cinco minutos para jogar Minesweeper ou Solitaire. Então, todos apresentaram suas ideias e avaliadores as julgaram. Mais uma vez, as propostas dos procrastinadores eram 28% mais criativas.

O que Grant pondera é que, ainda que o game seja incrível, não foi ele o propulsor do efeito criatividade. “Quando as pessoas jogavam antes de saberem sobre a tarefa, não houve aumento na criatividade. Foi só depois que souberam do que deveriam fazer que passaram a trazer ideias mais originais. A procrastinação incentivava o pensamento divergente”, ele conclui.

“Procrastinar não leva a nada grandioso”. Tem certeza?

Nossas primeiras ideias são geralmente as mais convencionais. Quando você procrastina, você deixa sua mente vagar, e isso aumenta as chances de “tropeçar no incomum e manchar padrões inesperados”, descreve Grant poeticamente. Quase um século atrás, ele reitera, a psicóloga Bluma Zeigarnik descobriu que as pessoas apresentavam uma memória melhor para tarefas incompletas do que para as completas. A explicação é que quando terminamos um projeto, o arquivamos. Mas quando está no limbo, permanece ativo em nossas mentes.

E vamos dizer que não faz sentido? Provavelmente, você se lembra com muito mais frequência e intensidade dos seus planos engavetados do que de seus feitos elogiosos. Daí, você pode questionar: “Ok, a procrastinação pode ajudar na criatividade do dia a dia. Mas, com as grandes invenções da humanidade, as realizações monumentais, com os divisores de água, é outra história, certo?” Errado. Grant tira do bolso do paletó como que um daqueles quilométricos pergaminhos de desenho animado, listando procrastinadores célebres:

“Steve Jobs procrastinava constantemente, vários de seus colegas me disseram. O ex-presidente dos EUA Bill Clinton foi descrito como um ‘procrastinador crônico’ que esperava até o último minuto para rever seus discursos. O arquiteto Frank Lloyd Wright passou quase um ano procrastinando em uma encomenda, a ponto de o seu cliente o expulsar e insistir que ele produzisse um desenho no próprio local. Tornou-se a Fallingwater, sua obra-prima. Aaron Sorkin, o roteirista por trás de Steve Jobs e The West Wing, é conhecido por adiar a escrever até o último minuto. Quando Katie Couric lhe perguntou sobre isso, ele respondeu: ‘Você chama isso de procrastinação, eu chamo isso de pensar’.”

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Ouça o professor: Dê uma chance à procrastinação

“E se a criatividade não acontecer apesar da procrastinação, mas por causa dela? Eu decidi me dar uma chance”, confessa Grant. Com uma certa autodisciplina, ele acordou uma certa manhã e escreveu uma lista de afazeres onde deveria procrastinar mais. Depois, partiu para alcançar o objetivo de não progredir em nenhum objetivo, como ele gosta de dizer. “Não foi excelente”.

Seu primeiro passo foi atrasar tarefas criativas, começando com o artigo que devia escrever para o NYTimes. “Eu resisti à tentação de sentar e começar a digitar. Ao invés disso, esperei. E enquanto procrastinava (isto é, pensava), lembrei-me de um artigo que havia lido meses antes sobre a pré-crastinação.” E isso despertou nele a ideia de que eu poderia usar suas próprias experiências como um pré-crastinador para escrever aos leitores.

Em seguida, Grant foi buscar alguma inspiração em George Costanza, de Seinfeld. “Quando eu comecei a escrever uma frase em que me senti bem, parei no meio e fui embora. Quando voltei a escrever mais tarde aquele dia, ainda era capaz de recomeçar de onde eu tinha parado o pensamento”.

Assim que terminou o rascunho, ele o deixou de lado por três semanas. “Quando voltei, tinha distância suficiente para me perguntar: ‘Que tipo de idiota escreveu este lixo?’ E reescrevi a maior parte.” Para sua surpresa, havia alguns materiais inéditos publicados, que ele poderia usar para redigir o seu artigo. Durante aquelas três semanas, por exemplo, um colega mencionou o fato de que Sorkin, o roteirista, era um ávido procrastinador e Grant inseriu essa informação para embasar seu argumento.

“O que eu descobri foi que, em todo projeto criativo, há momentos que demandam um pensamento mais lateral, mais lento. Minha necessidade natural de concluir as coisas cedo era uma maneira de desligar pensamentos complicados que me faziam girar em novas direções. Eu estava evitando a dor do pensamento divergente, mas também estava perdendo suas recompensas.

Aprendizados

Mentalize o fracasso e subestime o ideal. Em poucas palavras, estas são as duas lições de Grant para quem deseja parar a procrastinação que não leva a lugar algum, tampouco a ideias criativas. Por que ela também existe, você bem sabe. É quando a procrastinação vai longe demais. Explicamos.

Jihae, sua aluna, designou aleatoriamente um terceiro grupo de pessoas que deveria esperar até o último minuto para iniciar seu projeto. E elas não foram exatamente criativas… Na verdade, tiveram que correr para implementar a ideia mais fácil, em vez de elaborar uma nova. Quando foi a última vez que isso aconteceu com você? Pois, que tenha sido a última.

Para frustrar esse tipo de procrastinação destrutiva, a ciência orienta o seguinte. Primeiro, imagine-se fracassando espetacularmente, e a frenesi e a ansiedade funcionarão como um motor. Segundo, reduza seus padrões do que você considera progresso, e você ficará menos paralisado(a) pelo perfeccionismo. Reservar pequenas janelas de tempo também pode ajudar. O psicólogo Robert Boice, por exemplo, orientou seus estudantes de pós-graduação a superar o “bloqueio do escritor”, ensinando-os a escrever durante 15 minutos por dia.

Se você é uma pessoa procrastinadora, da próxima vez que você estiver brincando no “playground obscuro” da culpa e da raiva de si, porque fracassou em iniciar uma tarefa, lembre-se que o tipo certo de procrastinação pode tornar você uma pessoa mais criativa. E se você é um pré-crastinador, pode valer bastante a pena dominar a disciplina de se obrigar a procrastinar. Grant termina: Você não pode ter medo de deixar seu trabalho incompleto.

Confira também essa palestra de Tim Urban no TED com o tema “Dentro da mente de um procrastinador mestre”. Em um bate-papo descontraído, o escritor relata suas experiências com a procrastinação.

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