Seu cliente ainda precisa de você

Muitos comentários feitos sobre boa parte da indústria de TI nos últimos anos parecem algo que um adolescente num dia especialmente nefasto diria do seu pai: você não sabe nada, está superado por gente mais legal lá fora e usa as calças errado (os rumores do fim dos intermediários no mercado de tecnologia são exagerados, em minha opinião).

Assim como acontece com algumas crianças a respeito dos seus pais, também é possível lembrar o dia em que o consenso sobre o mercado de tecnologia mudou, fazendo muitas empresas parecerem antiquadas, usando as suas calças muito por cima do umbigo.

Foi em 2003, depois da publicação do artigo “IT Doesn’t Matter”, do Nicholas Carr, na Harvard Business Review. O título é bastante explicativo.

O artigo foi seguido por um livro um pouco mais reflexivo, Does IT Matter?, no qual Carr aprofundava a tese de que os investimentos em TI não geram diferencial competitivo, uma vez que as movimentações dos early adopters eram rapidamente igualadas pelo resto do mercado.

O trabalho mais influente de Carr, no entanto, foi The Big Switch: Rewiring the World, From Edison to Google, publicado em 2008. No qual ele traçava paralelos entre os primórdios da eletrificação e a indústria de TI.

Quando a energia elétrica era uma novidade, apontou Carr, as fábricas também mantinham seus próprios geradores dentro de casa. Com a evolução da eletrificação, no entanto, investidores criaram grandes usinas e uma rede de distribuição que tornou essa abordagem obsoleta.

A propagação de ideias funciona por mecanismos similares aos de uma cantada bem sucedida: uma comparação elegante, feita no momento certo e ouvida por um público predisposto pode ter grandes resultados.

Foi o que aconteceu com Carr, que fez uma comparação acessível (pense em quantas vezes você viu a foto de uma tomada em uma apresentação sobre tecnologia desde então), justamente quando a Amazon Web Services começava a despontar e o Google entrava no mercado de nuvem.

Ao mesmo tempo, as áreas de tecnologia das empresas estavam chegando ao final de um processo de três décadas de construção de um ambiente de TI baseado na arquitetura cliente servidor, com infraestrutura, plataformas e sistemas dentro de casa, com custos e complexidade crescentes.

>> Leitura recomendada: Cloud first, cloud only: o futuro está nas nuvens?

Fim de um ciclo

O ciclo de inovações que essa abordagem permite está chegando ao final, com os grandes projetos de implementação de sistemas de gestão e similares tendo se tornado uma coisa do passado.

Só a manutenção do que havia sido criado até então consumia cada vez mais tempo entre upgrades de equipamento, atualizações de versões de software e tentativas de atender às demandas crescentes por mobilidade.

No mundo prático dos orçamentos limitados, isso significava áreas de TI operando como departamentos de apagar incêndios o tempo todo, incapazes de atender as demandas de um público corporativo que começava a ter apps para tudo na sua vida “pessoa física”.

Nesse quadro, a visão de tecnologia fluindo como um serviço de utilidade pública, 24 horas por dia, sete dias por semana e sendo cobrada pelo consumo era uma visão à qual se agarrar, como um happy hour quando se está na metade de um longo dia.

De acordo com essa visão para o futuro da tecnologia, diversos grandes players de hardware e software, e claro, as milhares de empresas prestadoras de serviços que orbitam em torno deles estavam condenados a seguir um caminho rumo à irrelevância trilhado por outros intermediários como os grandes estúdios de música.

Depois do entusiasmo inicial

O que temos hoje em dia? O Hype Cicle do Gartner, no qual diferentes tecnologias são distribuídas numa linha do tempo de com cinco fases desde o surgimento até a adoção disseminada, oferece algumas pistas.

O último disponível sobre cloud computing é de 2015, mas serve para os propósitos da nossa análise aqui.

Chama atenção que no chamado “platô da produtividade”, o momento no qual uma tecnologia se torna mainstream, esteja apenas software de automação de força de vendas vendido como serviço: leia-se SalesForce, o mais antigo e respeitado dos players nascidos na era do cloud computing.

Sistemas de gestão em nuvem pública para pequenos e médios negócios está na fase anterior, chamada de subida do esclarecimento pelo Gartner (aqui preciso fazer um a parte para dizer que eu adoro esses nomes e o seu ar meio esotérico).

Sistemas de gestão na nuvem para grandes empresas, por outro lado, estão entrando na fase chamada poço da desilusão, o período depois do chamado pico das expectativas infladas (eu já disse que adoro esses nomes?) no qual as promessas dos lançamentos e os buzzwords se encontram com as realidades menos inspiradoras do universo empresarial.

A descida costa abaixo do pico das expectativas infladas até o poço da desilusão, aliás, está cheio de outras versões de cloud computing que tem sido marteladas pelos grandes fornecedores incessantemente: incluindo plataforma como serviço, broker de serviços de nuvem e banco de dados como serviço, entre outros.

Isso quer dizer que toda a promessa em torno de software na nuvem era vazia? Não. Quer dizer apenas que a migração entre um status e o outro é uma paleta longa de tons de cinza e não tanto uma migração abrupta entre branco e negro. As fases do ciclo do Gartner não são estáticas: elas operam em intervalos de dois a cinco anos.

Essa é uma visão a nível macro no mercado. Uma visão interessante a nível micro, mostrando o que acontece dentro das empresas onde essas decisões são tomadas, está em uma pesquisa da Quadrant Strategies, feita para a Commvault, uma empresa americana dona de uma plataforma de gestão de dados.

(Commvault pagou o estudo, então vale esclarecer um pouco melhor qual é o posicionamento da empresa. No mercado desde o final dos anos noventa, a Commvault era bem conhecida pelo seu software de backup, que administrava coisas pouco sexys como armazenagem de longo prazo em fitas. Hoje eles estão se posicionando em torno do tema dados e nuvem, o que tem muito a ver com o foco da pesquisa).

Foram ouvidos 1,2 mil profissionais nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Japão, França e Canadá. Apesar dos entrevistados serem de economias desenvolvidas, o tipo de situação que a pesquisa retrata provavelmente se reflita em grandes organizações de países como o Brasil.

E o que eles tem a dizer? Bem: só 36% se sentem preparados para levar todos os dados da companhia para a nuvem e 48% disseram ter uma “rede”, uma descrição básica e muito anos 90 do que seria a TI de uma empresa, quando perguntados sobre a qualidade do seu ambiente de tecnologia (o que o estudo chama de “technology stack”).

Essas duas respostas foram registradas apesar do fato de 59% dos entrevistados terem planos de “transformação digital” em curso nas empresas e 68% considerarem um “technology stack” integrado importante.

>> Leitura recomendada: [Ebook] Automação e Transformação Digital no Trabalho

Transformação digital é o termo da moda no momento

Na prática, o conceito que os players do mercado querem vender para os clientes é a possibilidade de reduzir custos e aumentar a eficiência adotando o relacionamento com o consumidor final simplificado e intuitivo das startups.

Além disso, mais do que digitalizar processos, operar o back office ou suportar a operação, a ideia é que as áreas de TI possam para abrir áreas de negócio e possibilidades de expansão para as organizações.

Vou buscar clarificar isso um pouco usando o exemplo de uma barraquinha de cachorro quente de rua (em Porto Alegre, tais empreendimentos são conhecidos como “morte lenta”, um fato absolutamente não relacionado com a discussão até agora, mas que eu não pude deixar de compartilhar com você, caro leitor).

Pois um “morte lenta” transformado digitalmente provavelmente seguiria vendendo cachorro quente com o potencial de te deixar mal do estômago, só que faria através isso de um app com recursos de geolocalização e pagamento, para depois vender os dados dos consumidores mais frequentes para uma nutricionista.

Para fazer isso com a destreza necessária, o dono da banquinha ter um ambiente de dados sólido e um “technology stack” integrado e resistente a gordura por trás. E isso, como aponta o levantamento do Gartner e o estudo da Quadrant Strategies, está longe de acontecer tanto para as empresas como um todo como o nosso morte lenta hipotético.

O que nos leva de volta ao tema inicial. Um mercado de tecnologia varrido por novas usinas hidroelétricas de computação segue sendo uma visão de futuro, que existe hoje na prática para algumas empresas ou para algumas linhas de negócios dentro das empresas.

Na realidade tal e como ela existe hoje, as empresas seguem precisando de intermediários para conseguir levar a cabo seus planos, o que deve seguir acontecendo no futuro próximo. Se você é uma empresa integradora de tecnologia, provavelmente seu cliente ainda precisa de você.

Provavelmente, sua calça também está no lugar certo.

 


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