A internet sonha com ela mesma?

Carl von Clausewitz foi um general prussiano. Ele entrou no exército com 12 anos, em 1792, e teve uma carreira militar de destaque, boa parte dela lutando contra tropas napoleônicas, uma das principais ocupações da Prússia na época.

Clausewitz estava na grande batalha de Jena, em 1806, quando as tropas francesas aniquilaram os exércitos da Prússia e da Saxônia, e também em Waterloo, onde o destino de Napoleão foi selado em 1815.

De todas formas, Clausewitz é lembrado por outro motivo: um livro póstumo lançado por sua esposa reunindo textos escritos durante as guerras napoleônicas. O general trabalhou no livro até pouco antes de morrer de cólera em uma campanha militar na Polônia em 1831.

Da Guerra, como foi chamado o livro, é um tratado militar lido até hoje, no qual Clausewitz usa as ferramentas filosóficas da época, como a dialética de Hegel, para entender o fenômeno da guerra do ponto de vista político e moral.

“A guerra é a continuação da política por outros meios” é um dos aforismos pelo qual Clausewitz é mais lembrado pelos leigos, mas esse não é o melhor resumo do pensamento do general (o método dialético funciona pela oposição de teses, essa é apenas uma delas).

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A principal diferença do trabalho de Clausewitz, para outras obras da época hoje esquecidas, é que ele não tentou criar uma resposta sistemática para o problema de como ganhar uma guerra, com base em mapas, gráficos e outros instrumentos do tipo, mas uma filosofia para entender como ela funciona.

Os trabalhos com abordagem ficaram datados com a introdução de novas tecnologias de combate que mudaram as regras de fundo. A visão de Clausewitz, por outro lado, é sempre atual.

Uma das preocupações centrais de Clausewitz é como os comandantes militares podem agir sobre o que ele chamava de “névoa da guerra”. Trata-se de um conjunto de informações incompletas, dúbias, ou totalmente erradas recebidas em meio a altos níveis de medo, dúvida e excitação.

Essa “névoa” parece adquirir uma espécie de vida própria, evoluindo de maneira autônoma das vontades dos seus criadores. A guerra, às vezes, sonha sobre ela mesma, disse uma vez Clausewitz.

E a internet, sonha com ela mesma?

Não se preocupem. Eu não passo meus dias andando de pantufas pela casa, tomando chimarrão e lendo sobre a vida de generais prussianos, quem sabe usando um monóculo. Esse é parte do meu plano para quando for aposentado.

Na verdade, o motivo pelo qual eu estou falando de Clausewitz é que a tentativa dele de compreender um fenômeno que, às vezes, parece ter vida própria, em meio a informações duvidosas, tem uma certa semelhança com o trabalho de alguém que tenta entender para onde a tecnologia vai e que transformações ela já causou e causará.

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Infelizmente, o setor de tecnologia não é lá muito pródigo nesse tipo de reflexões, motivo pelo qual deveria ser obrigatório para quem está envolvido na área assistir a um filme como Eis os delírios do mundo conectado (tem no Netflix!), do cineasta alemão Werner Herzog.

Herzog, um homem que não usa um celular nem tem presença online, é famoso pela lenda negra de filmes como Aguirre, a cólera dos Deuses ou Fitzcarraldo, feitos em condições extremas na selva peruana nos anos 70 e 80.

Extremas mesmo: um integrante da equipe cortou o próprio pé com uma motosserra para evitar a morte depois de levar uma picada de uma cobra especialmente venenosa. Herzog também ameaçou de morte Klaus Kinski, estrela dos filmes.

Foi um ato corajoso, porque Kinski, um sujeito peculiar, estava armado com um rifle Winchester (veja a cara desse entrevistador britânico ouvindo essas histórias: é impagável).

Herzog fez uma carreira contando a história de protagonistas ambiciosos com sonhos impossíveis, talentos em campos obscuros ou em conflito com a natureza.

Com o passar dos anos, ele vem se tornando um cineasta mais reflexivo, ainda que não menos agudo, lançando um documentário melhor do que outro.

O “Lo and behold”, do título original do filme Eis os delírios do mundo conectado, era muito usado em textos em inglês a partir do século 17, significando algo como “Olhe e admire”. “Lo” foi também a primeira mensagem transmitida pelo que viria a ser a internet, em 1969.

A ideia dos pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles, gente com inclinações práticas, era enviar a mensagem “Log in” para os computadores de Stanford, 600 quilômetros ao norte, em São Francisco.

Felizmente, a coisa toda deu pau na terceira letra e a mensagem ficou apenas “Lo”, fornecendo um bom ponto de partida para Herzog, que começa a contar a história do mundo de hoje, a partir da sala na qual a primeira mensagem foi enviada.

Um estranho no mundo que pretende descrever, Herzog tem um olhar ao mesmo tempo distante e próximo, deslumbrado e espantado, costurando uma narrativa que flui como a navegação na internet pré-redes sociais, quando um link levava para outro e para outro, chegando a lugares realmente estranhos no meio.

A jornada passa pelos pais da internet (a que aconteceu e a que poderia ser), pela pesquisa mais recente em carros e robôs autônomos, pelo escritório de Elon Musk e por conferências de cibersegurança.

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A internet tem pesadelos com ela mesma?

Herzog também olha de frente para temas que os entusiastas preferem evitar, como a impotência dos indivíduos contra manadas de trolls anônimos contada pelo caso da família que recebe fotos da própria filha após um acidente de trânsito.

O filme também visita um grupo de pessoas que se mudaram para Green Bank, na Virgínia, onde o governo americano construiu um grande telescópio para captar sinais de comunicação de outras civilizações no espaço – e onde, por isso, não pode haver nenhum sinal de telecomunicações terráqueas.

Pessoas, que especulam sobre o apocalipse e a futilidade final dos empreendimentos humanos, sem dúvida, vão gostar da parte sobre erupções solares, um fenômeno raro, mas não tão raro assim.

A maior delas, conhecida como Carrington Event, aconteceu em 1859, quando máquinas de telégrafo pegaram fogo sozinhas e foi possível ver a aurora boreal no Equador. O efeito de um acontecimento desse tipo sobre as linhas de supply chain (cadeias de suprimentos) e meios de produção cada vez mais digitalizados seria… Deixa para lá.

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Tão chamativo quanto o que está no documentário de Herzog é o que não está: não se falam em redes sociais, nem se fazem menções a nuvens, super rodovias da informação ou outros clichês batidos.

Herzog conta uma história, às vezes, entusiasmante, outras tantas confusa ou repulsiva, sem a preocupação de ser exaustivo ou cobrir todos os temas, apenas de fazer refletir. Às vezes, isso é mais importante do que encontrar a resposta.


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