Fundos de investimento

O fundo para acabar com os fundos

Em 1981, Masayoshi Son subiu em cima de duas caixas de maçã em um escritório em Tóquio e deu um discurso sobre sua visão de futuro para os funcionários da SoftBank, uma companhia de distribuição de software para o então emergente mercado de computação pessoal.

Dentro de cinco anos, disse Son na ocasião, a empresa seria a número 1 no mercado, com vendas de US$ 75 milhões e seria responsável por vendas para mais de mil varejistas (como as frutas, software nessa época também se vendia em caixas).

Os funcionários eram só dois e ainda por cima trabalhavam só meio turno. Eles não ficaram muito impressionados. Ou ficaram impressionados, mas não da maneira como Masayoshi Son tinha previsto: os dois acharam que o chefe estava louco e pediram demissão no mesmo dia.

O próprio Son contou a história em uma entrevista para a prestigiada revista Harvard Business Review, em 1992. Naquele ano então, ele já tinha batido e dobrado duas vezes a meta estabelecida no discurso das caixas de maçã: o faturamento era de US$ 350 milhões e os funcionários chegavam a 570.

Na época, Son já era uma figura relevante dentro do mundo dos negócios japonês. Mas isso era nada comparado com o que estava a vir pela frente.

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Novas regras para o jogo

Hoje, depois de ter transformado a SoftBank em uma gigante de telecomunicações e internet no Japão, Masayoshi Son parece ter subido nas caixas de maçã de novo. Pelo menos metaforicamente.

O plano agora é investir nos próximos cinco anos em cerca de 70 a 100 unicórnios, como são conhecidos os pôneis com asas e um chifre só e também startups promissoras, com um valor avaliado no mercado acima de US$ 1 bilhão. O dinheiro sairá do Vision Fund, um fundo de investimentos de US$ 100 bilhões.

Vamos colocar as coisas em perspectiva. Até agora, o Brasil tem três unicórnios: o banco digital Nubank, o aplicativo de transporte 99 e a plataforma de pagamentos PagSeguro. Palpites de especialistas da área falam que o país tem 10 companhias com potencial para serem unicórnios no país.

Um leitor mais cético pode dizer que o Brasil não está com essa bola toda quando o assunto são unicórnios, no que ele estaria certo.

Uma outra forma de olhar para as ambições do Vision Fund é uma comparação com o cenário de fundos de venture capital americanos, hoje a força dominante nesse tipo de investimento.

Quando o fundo foi formado, alguns críticos no Vale do Silício disseram que seria impossível gastar a quantidade de dinheiro que o Vision Fund tinha disponível dentro do tempo projetado.

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Em fevereiro, no entanto, o fundo revelou que já tinha gastado 40% do total arrecadado desde a sua fundação em 2016, algo em torno de US$ 40 bilhões. É mais do que os US$ 33 bilhões que todos os fundos de venture capital dos Estados Unidos gastaram juntos em 2017.

Ler a lista de investimentos do Vision Fund me lembrou de Chuva de Milhões, aquele clássico da Sessão da Tarde dos anos 80.

Vocês lembram? Um cara ganha uma herança com duas opções: US$ 1 milhão garantido ou gastar US$ 30 milhões em 30 dias para receber então US$ 300 milhões. Uma aventura da pesada com uma turma muito louca… Bom, vocês podem ver o filme inteiro aqui, mas só depois de terminar o meu post.

Os investimentos incluem grandes tacadas em negócios consolidados, como US$ 8 bilhões na fabricante de chips ARM ou US$ 4 bilhões na fabricante de processadores gráficos Nvidia.

A relação, no entanto, engloba também US$ 4,4 bilhões na WeWork, uma rede de escritórios do tipo coworking que para muitos analistas têm mais hype (publicidade) do que retorno a oferecer pelo investimento. E foram outros US$ 300 milhões na Wag!, que é, bem, um aplicativo para contratação de passeadores de cachorro.

No geral, é difícil bater o olho na seleção de 24 investidas do Vision Fund e ver um nexo causal entre os investimentos. A lista tem um pouco de tudo, incluindo pagamentos digitais, biotecnologia, realidade virtual, um agregador de hotéis e até um site alemão de carros usados.

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Diversificação ou lógica

Até aí, sem problemas. A maioria dos fundos de investimento funciona assim. A lógica é que, num grupo de 50 investimentos, 20 vão dar em nada e 20 terão retornos meia boca. Outros nove podem ter bons resultados. Mas é o um investimento restante que terá um desempenho extraordinário e vai bancar a coisa toda.

A própria fortuna de Son tem origem nessa dinâmica. No começo dos anos 2000, ele chegou a ter uma fortuna pessoal maior que a de Bill Gates. O estouro da bolha afetou com mais intensidade o setor de telecomunicações e derreteu 99% do valor da SoftBank.

Mas a empresa tinha colocado US$ 20 milhões no Alibaba, então uma operação de e-commerce obscura na China que acabou fazendo a maior abertura de capital do mundo em 2014. Os 28% de participação da SoftBank na empresa valem hoje US$ 140 bilhões.

Agora mesmo não se trata de diversificação visando minimizar os riscos. Existe uma lógica subjacente interconectando esses investimentos todos e planos para extrair sinergias entre eles, transformando o Vision Fund numa espécie de Vale do Silício particular.

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A visão é ajudar no desenvolvimento da chamada “singularity”. O ponto no qual a inteligência artificial superará a humana, causando a volta dos jardins suspensos da Babilônia ou o extermínio da humanidade por robôs subitamente aterrados pelo nosso mau gosto.

Grandiloquência, ou papo furado, é um problema comum no setor de tecnologia da qual Son não é o único culpado. Mas também existem questões práticas na operação do Vision Fund que indicam dificuldades no futuro, tema de uma matéria recente na The Economist.

Desafios futuros

Quase a metade do dinheiro do fundo vem da Arábia Saudita, para quem Son vendeu o empreendimento como um caminho para levar a cabo a estratégia de diversificação de uma economia dependente do petróleo. Outra parte vem de empréstimos, que demandam pagamentos mensais.

Parte do motivo pelo qual o fundo gastou tanto até agora é porque Son, muitas vezes, insiste em investir mais dinheiro do que as startups com produtos ou serviços ainda incipientes pedem. Se os donos não estão muito convencidos, a estratégia é ameaçar financiar algum concorrente.

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Na prática, o fundo acaba alimentando as empresas à força, uma estratégia que serve para produzir patê de fígado de ganso (de uma maneira muito desagradável para o ganso, diga-se). Mas que é no mínimo controversa como uma tática para desenvolver negócios saudáveis.

A estratégia do Vision Fund já está alterando o mercado em nível mundial. Parte do seu dinheiro está indo para Europa e Ásia, diminuindo a importância relativa do Vale do Silício.

Os americanos, por sua parte, começam a ensaiar uma reação. O Sequoia, uma das empresas de venture capital mais importantes do país, anunciou que vai levantar US$ 8 bilhões em um próximo fundo.

Analistas apontam que startups agora podem postergar a abertura de capital. Uma vez que têm acesso a montanhas de dinheiro por um mecanismo menos exigente.

Independente do sucesso ou não da sua visão, Masayoshi Son pode acabar realmente mudando o mundo, dando o empurrãozinho que faltava para a formação, e o inevitável estouro, de uma segunda bolha da Internet.


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